O Gato leu: Os Despossuídos

Os Despossuídos – Ursula K. Le Guin
Editora: Aleph
Ano: 2017
Páginas: 384
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Seguindo com o Desafio Leia Mulheres do ano passado, fui atrás de uma ficção cientifica escrita por uma mulher. Este gênero é dominado por homens de talento, mas ainda homens.

Um nome feminino se mantém firme há décadas e veio solidificando espaço para as novas gerações de escritoras de sci-fi. Ursula K. Le Guin é descrita na orelha do livro Os Despossuídos como “a antropóloga de culturas que nunca existiram”. Acho essa definição genial.

Foto do livro Os Despossuídos, de Ursula K. Le Guin. A resenha foi publicada no blog Gato que Flutua, por Debb Cabral, em 2020.
Foto: Debb Cabral/GatoQueFlutua

Ela é capaz de criar mundos novos com sistemas políticos, econômicos e sociais próprios. Tudo isso de uma forma intrigante e que aguça a nossa curiosidade sobre aquela sociedade por nós desconhecida.

Quando os seus mundos ficcionais muitas vezes entram em conflito, é impossível não pensar como que seria reação do nosso mundo a essa diferença na forma de viver.

– Tudo bem. Concordo que talvez seja sensato temer Urras. Mas por que odiar? O ódio não é funcional; por que nos ensinam a odiar? Será que é porque se soubessemos como Urras é de verdade, nós não iriamos gostar de lá? De algumas coisas de lá, alguns de nós? (Pág. 52)

Em Os Despossuídos, o capitalismo e a anarquia tentam entrar em dialogo através de um cientista.

Na história, os dois planetas-gêmeos, Urras e Anarres, têm sistemas políticos opostos. O primeiro é capitalista e o segundo foi colonizado por anarquistas que fugiram da pobreza e guerras de Urras. Eles criaram no planeta inóspito a sua utopia de liberdade e comunidade.

O explorador que não retorna ou não manda de volta suas naves para contar o que viu não é explorador, é só um aventureiro; e seus filhos nascem no exílio. (Pág. 96)

Shevek nasceu em Anarres e é cientista. Por causa da infertilidade do planeta ele, assim como todos os seus  outros moradores, trabalha de vez em quando em tarefas braçais, de limpeza, lavoura, entre outras.

Mesmo com toda essa dificuldade, ele consegue fazer ciência e deseja compartilhar seus descobrimentos amplamente com o seu povo. Porém, percebe que a nação vinda da revolução anarquista tem seus próprios problemas de ordem social e hierárquica.

Não se pode destruir ideias reprimindo-as. Só se pode destruí-las ignorando-as. Recusando-se a pensar, recusando-se a mudar. E é exatamente isso que a nossa sociedade está fazendo! (Pág. 165)

Missão em busca de respostas

De forma velada ou evidente, ele encontra barreiras em seu caminho. Aos poucos estabelece uma comunicação com o planeta vizinho e decide embarcar em uma missão para uni-los. Shevek quer compartilhar o que sabe e também deseja aprender muito.

Em sua jornada, ele vai descobrir que tanto as suas certezas quanto as suas expectativas não são tão solidas assim.

Era fácil partilhar quando se tinha o suficiente, mesmo escassamente suficiente, para se viver. Mas e quando não havia o suficiente? (Pág. 253)

A obra de Ursula K. Le Guin é uma alusão à Guerra Fria. O conflito de culturas é muito interessante de ser abordado. A autora nos mostra o que há de melhor e o que há de pior em cada uma.

A narrativa mistura passado e presente de uma forma intrigante. Eu ficava tão focada nisso que, às vezes, esquecia que a história tinha que avançar.

Outro ponto interessante que quero destacar é que os nomes dos personagens muitas vezes não indicam gênero. Eles todos realizam várias funções e ações que socialmente atribuímos a um gênero em específico.

Só adiante na história é que vamos descobrir quais personagens são homens e quais são mulheres. Isso nos faz pensar o quanto que os papéis de gênero não fazem sentido algum hoje em dia.

Para Shevek, a tarefa de um pensador não era negar uma realidade à custa de outra, mas incluir e conectar. Não era uma tarefa fácil. (Pág. 279)

Os Despossuídos venceu os prêmio Nebula, em 1974, e os prêmios Hugo e Locus, em 1975.

Vale muito a pena conferir. Recomendo demais essa leitura!

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