O Gato leu: Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída…

Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída… – Kai Hermann e Horst Rieck
Editora: Best Bolso
Ano: 2012
Páginas: 320
Compre: Amazon

Sempre fui muito interessada por histórias reais. Só vim conhecer a história de Christiane F. depois de adulta e não perdi a oportunidade lê-la.

O livro Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída… reúne os depoimentos colhidos no final dos anos 1970 pelos jornalistas Kai Hermann e Horst Rieck, que faziam uma reportagem sobre os jovens da Alemanha quando conheceram Christiane F., que testemunhava no julgamento de um traficante. Após meses de entrevistas, os dois escreveram este livro sobre juventude, drogas e prostituição.

Foto: Debb Cabral

O livro tornou-se um best seller.

Infelizmente, senti que a abordagem jornalistica não foi tão aprofundada quanto deveria.

A forma como o livro é construído; alternando relatos de Christiane F., sua mãe, policiais e especialistas é cansativa. Não há notas de rodapé com dados ou informações complementares. O que torna os capítulos apenas longos relatos individuais sem se aprofundar no tema ou no ambiente em que as situações ocorriam. Temas como violência doméstica e infantil, traumas e necessidade de escapismo e de fazer parte de um grupo são apenas pincelados.

Eu tinha essa vontade para escapar de toda esssa merda, merda de escola e merda de casa (Pág. 48)

A fala de Christiane F. corre solta por páginas e páginas. Christiane F. não parece arrependida e também não tem um olhar crítico sobre o que viveu. Ela, inclusive, julga o seu vício superior ao de outras pessoas, como nas várias vezes em que diz que os alcoólatras são piores porque são violentos.

A vida de Christiane F. não foi fácil, é importante lembrar que ela viveu tudo isso em uma época de grande transformação social. A imagem da guerra estava bem presente na mente das pessoas, bem como os sentimentos de inquietação, revolta e desejo por mudança.

Podia-se escolher o estado de espírito: bastava tomar maior ou menor quantidade de estimulante ou de tranquilizante. (Pág. 69)

Em diversos capítulos ela devaneia sem parar por questões desinteressantes, como na parte em que fica idealizando a casa dos sonhos em que viveria com o seu namorado. O próprio capítulo inicial, em que ela fala sobre o conjunto habitacional em que viveu, também é excessivamente longo e repetitivo.

A problemática da abordagem

A grande questão, para mim, é que a abordagem escolhida para o livro não tem uma análise critica das ações e vida de Christiane F. sendo feita sistematicamente o que, a meu ver, acaba por glamorizar o que ocorreu. Por mais assustadora que sejam as situações vividas, a fala sem tom de remorso ou reflexão faz com que o trauma e o choque percam a força que poderiam ter nos leitores.

Fico pensando em como que seria o meu sentimento se tivesse lido o livro com a idade de Christiane F.. Certamente o impacto seria maior, mas para que lado? De que jeito?

Pergunto-me frequentemente por que os jovens estão tão mal consigo mesmos. Nada mais lhe dá prazer; uma moto aos 16 anos, um carro aos 18 anos – é a rotina. E, quando não têm, sentem-se miseráveis. (Pág. 298)

Em entrevista, ela disse que não ficou satisfeita com a abordagem da adaptação para o cinema. Segundo ela, o filme não aborda com profundidade as questões como o abuso do pai e o alcoolismo, o que está na origem de alguns de seus traumas.

Ela lançou, já adulta, um livro sob o título de Eu, Christiane F., a Vida Apesar de Tudo, em que conta sua história com suas próprias palavras.

Ano passado, a Amazon Prime Vídeo anunciou que irá lançar uma série sobre a história de Christiane F.. Apesar de ter tido os meus problemas na leitura do livro, pretendo ver a série e a abordagem escolhida para contar a história nos dias de hoje.

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