O Gato leu: Arquivos Serial Killers – Made in Brazil

Arquivos Serial Killers: Louco ou Cruel? – Ilana Casoy
Editora: DarkSide
Ano: 2014
Páginas: 360
Compre: Amazon

Depois de muito tempo sem postar uma resenha literária por aqui, eu retorno com um livro nacional e matador. Eu já falei aqui no blog sobre o Arquivos Serial Killers: Louco ou Cruel? no qual Ilana Casoy, maior especialista brasileira em assassinos em série, aborda os casos internacionais que ganharam fama. Entre eles destacam-se Ed Gein, Ted Bundy, Jeffrey Dahmer e o Zodíaco.

Em terras nacionais também existem personificações do mal. Arquivos Serial Killers – Made in Brazil é fruto de cinco anos de pesquisas, visitas a arquivos públicos, manicômios e penitenciárias, além de entrevistas cara a cara. Tudo isso para compor um inquietante roteiro com rigor investigativo de como, por quê e com que métodos os serial killers brasileiros atuam.

Parece hollywoodiano? Não, nós também temos serial killers. Afinal, a mente humana não obedece fronteiras geográficas. (Pág. 27)

É interessante notar que apesar de haver muito em comum com os serial killers internacionais, como a questão dos lares abusivos, os assassinos brasileiros tem suas peculiaridades e isso está muito ligado à nossa história nacional. Temos por exemplo, o caso de José Augusto do Amaral (Preto Amaral), primeiro nome trazido por Ilana, que nasceu em 1871. Lembrem-se de que a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, é de 1888!

Nem cativo e nem propriamente livre, “Preto Amaral” era, assim como outros negros da época, visto como um ser inferior, de segunda classe, do tipo que é fichado por “vagabundagem” ou “atentado à moral e aos bons costumes”. Claro que nada disso justifica as crueldades por ele realizadas, mas nunca se deve deixar de lado o contexto na hora de se realizar uma análise.

Alguém que cometeu um crime de homicídio teve uma historia antes e tem uma historia depois; é relevante saber o que fez com isso, porque o discurso da sociedade é simplista: tranca e joga a chave fora! Mas nós estamos falando de um ser que também é filho, que também é marido, que também é pai, que tem toda esta bagagem e que também quer entender. (Pág. 135)

Pulando do primeiro para o ultimo caso do livro vamos direto para Pedro Rodrigues Filho, vulgo Pedrinho Matador, que a própria autora questiona se deve ser considerado mesmo um assassino em série como os demais. “Pedrinho Matador” perseguia e matava outros criminosos, descarregando seu instinto assassino naqueles que considera “maus”, seguindo seu próprio código. Ilana consegue, neste capitulo, nos levar à reflexão da formação de uma identidade criminosa. Nas favelas brasileiras o Estado se omite e o poder paralelo ascende, criando suas próprias leis. Traficantes e bandidos promovem o acesso das pessoas à serviços básicos como água e gás em troca de silêncio e colaboração.

Cria-se um outro estilo de vida e as favelas vão ficando cada vez mais marginalizadas. O Estado não deseja entrar e nem os traficantes desejam que ele o faça. Nesses lugares os modelos de masculinidade, virilidade e força são outros. Um revólver na cintura, uma ficha criminal, um domínio territorial. “Pedrinho Matador” vem de uma realidade assim, mas ele já está encarcerado. Porém, sua realidade de origem não mudou. De quantos “Pedrinhos” nós ainda iremos ouvir falar? Ilana nos traz esses questionamentos apoiada em obras como FalcãoMeninos do Tráfico, documentário brasileiro produzido pelo rapper MV Bill, pelo empresário Celso Athayde e pelo centro de audiovisual da Central Única das Favelas.

Além dessas analises a autora traz outros casos singulares como o de Francisco da Costa Rocha, o “Chico Picadinho”, liberado pela justiça criminal mas detido pela justiça civil e Marcelo Costa de Andrade, vulgo Vampiro de Niterói, que não demonstra arrependimento real algum pelo assassinato de 14 crianças.

Uma pessoa não é só o crime que ela cometeu. Ilana nos diz isso ao refletir sobre o tratamento psicológico dado à essas pessoas e sobre o desgastes emocional e psicológico dos profissionais que lidam com eles.

… o delito é transitório, mas a doença mental não. O paciente não pode ser abandonado pelo Estado ao termino de sua medida de segurança. Devem ser dadas todas as garantias para que ele tenham as melhores condições de conviver com a doença sem correr o risco de cometer novos delitos por falta de acompanhamento e tratamento. (Pág. 275)

Completam o livro os caos de Febronio Índio do Brasil, Benedito Moreira de Carvalho (Monstro de Guaianases) e José Paz Bezerra (Monstro do Morumbi). Eu já havia gostado muito de ler Arquivos Serial Killers: Louco ou Cruel?, mas gostei mais ainda de Arquivos Serial Killers – Made in Brazil devido à pluralidade de indivíduos apresentados.

Recomendo!

Siga nas redes sociais!

Facebook InstagramTwitter Google +Pinterest YoutubeSkoob

Comente!

%d blogueiros gostam disto: