Colocando o feminismo de volta nos trilhos e O Ponto Zero da Revolução

Não sei se conseguirei fazer a resenha completa do livro O Ponto Zero da Revolução como fiz de Calibã e a Bruxa, também da autora Silvia Federici.

Este é um livro teórico sobre o feminismo que venho lendo com calma e atenção desde o ano passado. Eu avanço as páginas devagar, pois a todo momento paro para reler, marcar ou anotar algo. Isso quando não largo o livro e fico só refletindo sobre o que ele me inquietou.

Diante disso, vai ser difícil, para mim, fazer uma análise da totalidade do seu conteúdo. Mas eu precisava falar dele mesmo assim.

Foto: Debb Cabral/GatoQueFlutua ©

Foi na minha leitura noturna que me deparei com o capítulo mais instigante do livro até então: Colocando o feminismo de volta nos trilhos.

Neste texto de 1984, a autora reflete sobre o feminismo e a necessidade da sua interseção com as outras lutas e pautas sociais para se manter relevante e em diálogo com o contexto atual da sociedade.

Nenhum movimento, no entanto, pode se sustentar e crescer, a não ser que desenvolva uma perspectiva estratégica unificando suas batalhas e mediando seus objetivos de longo prazo com as possibilidades abertas no presente. (Pág. 116)

Desde muito jovem, minha primeira postura sempre foi a de recusar o papel tradicional atribuído à mulher. Assim, a maternidade e a vida para o lar nunca estiveram nos meus planos. Porém, a autora nos convida a olhar com mais atenção e empatia para a mulher que deseja estar em casa e exercer a função de mãe em sua integralidade.

O errado não é querer este modo de viver. O errado é ele ser o único destino possível para as mulheres. É errado não ter escolha!

Como repetimos com frequência, o que precisamos é de mais tempo e mais dinheiro, não de mais trabalho. Nós precisamos de creches, não para sermos liberadas para mais trabalho, mas para podermos dar um passeio, conversar com nossas amigas ou irmos a encontros de mulheres. Pág. 120

O TRABALHO DAS MULHERES EM UMA SOCIEDADE CAPITALISTA

Acho que foi isso que me pegou tanto na leitura deste texto: o fato de Silvia trazer muitos dos meus questionamentos interiores em relação ao feminismo.

Durante muito tempo, eu vi o trabalho fora de casa como a única forma de libertação e garantia da autonomia para uma mulher, mas trabalho é só trabalho. É aquilo que você faz para ganhar dinheiro e pagar as contas, ele não define a sua vida e nem quem você é. Ao longo dos anos, temos colocado o trabalho em um pedestal, dedicando a nossa vida a ele e, em uma sociedade capitalista, este é justamente o perigo.

Trabalhar em um sistema capitalista é exploração, e não há prazer, orgulho ou criatividade em ser explorado. Pág. 123

É preciso lembrar que as mulheres em casa já trabalham, mas não são remuneradas e isso às torna invisíveis. Precisamos ver no trabalho (seja ele qual for) um campo de luta, uma forma de marcar limites e exigir o devido retorno pelo tempo que o é dedicado.

Eu finalizo aqui com o pensamento de que é preciso entender que igualar as mulheres à condição masculina também significa dizer que esta está correta e não precisa de mudanças estruturais. “Em que sentido queremos ser igual aos homens”, nos questiona a autora.

Como legitimar a sua luta, quando o que você recusa é supostamente considerado um privilégio pela outra metade da população? (Págs.127 e 128)

Este texto não chega a ser uma resenha, é mais um apanhado das inquietações que nasceram da sua leitura. Longe de trazer respostas, meu objetivo aqui é fazer com que estes questionamentos avancem.

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