Somos mais legais que os nossos trabalhos

Esses dias eu estava me lembrando de como era quando tínhamos alguma dinâmica ou algo que pedia que nos apresentássemos diante de pessoas desconhecidas. Comumente era pedido que nos descrevêssemos sem falar das nossas profissões ou formações acadêmicas.

Depois de muito pensar, as pessoas se soltavam e falavam que amavam livros de romance, gostavam de caminhar de manhã bem cedo, eram fãs de filmes de terror, se aventuravam na cozinha e coisas do tipo.

Better Call Saul é a série que mais me representa neste momento

Essas eram as pessoas de fato.

O trabalho toma tanto tempo dos nossos dias que acreditamos, muitas vezes, que ele nos define.

Mas o trabalho é só trabalho. Não importa se você o ame ou o odeie, ele é só seu trabalho, é algo que se faz para ganhar dinheiro.

Mas é justamente nesse entendimento (ou na falta dele) que muitos começam a ter problemas, inclusive eu, diversas vezes.

Somos pagos para realizar nosso trabalho e aí, quando não precisam mais de nós (por qualquer que seja o motivo), sentimos que perdemos o nosso valor.

Mas o nosso valor ninguém nos dá, é algo que somente nós mesmos podemos nos dar.

A remuneração, quando em falta, nos afeta demais. A incerteza do futuro é grande. Sei disso, pois já vivi desde as fases de bonança até o desemprego.

Uma dessas fases de bonança financeira me fez muito mal emocionalmente. Eu chorava quase todo dia, estava melancólica e evitava toda e qualquer conversa que não fosse por texto. Fui humilhada e cobrada sem necessidade em horários de descanso. Me sentia desvalorizada, apenas um capacho que executa as ordens. Não me via mais parte de algo pelo qual trabalhei durante tantos anos.

Nessa fase, eu só focava em economizar tudo o que eu pudesse e contava os dias até a minha saída que já havia anunciado.

Dizer adeus não é simples e nem parece, mas consegui.

Hoje sigo nas incertezas. Tenho uma remuneração fixa vinda de um projeto com uns amigos e faço freelas sempre que posso e aparece algo.

Mas depois da ansiedade, burnout, sintomas de depressão e processo trabalhista, penso melhor antes de fazer cada escolha.

Jimmy e Kim, de Better Call Saul
Apanhando da vida e do trabalho como o Jimmy e a Kim

Claro que preciso de dinheiro, não nasci herdeira.

A educação financeira (tardia e com muito custo) foi essencial para eu poder ter a liberdade de não me sentir obrigada a trabalhar em algo que não me faz bem. Não esqueço dos meus privilégios, não mesmo. Tenho uma família que se apoia e na qual um socorre o outro quando as coisas apertam.

Eu não paro de trabalhar, não posso, pois as contas não param de chegar. Mas eu estou buscando uma relação mais saudável com o trabalho.

E quem eu sou fora do trabalho?

Sou uma mulher de 28 anos; que ama ler, mas quer diminuir a quantidade de livros que tem em casa; que curte filmes de gosto duvidoso; se empolga com as novidades da Marvel; gosta de cozinhar quando não é uma obrigação; mãe de duas gatas; apaixonada por plantas, mas que pensa todos os dias que elas estão morrendo; que ama conteúdos de decoração e põe a mão na massa mesmo com preguiça; que voltou a fazer exercícios porque passou muito tempo parada e o corpo sentiu; aquela que transita entre a mania de limpeza e o “deixa para amanhã”. E outras coisas.

Ah, cara, eu sou muuuito mais legal que o meu trabalho e sei que você também é.

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