A Falência – Júlia Lopes de Almeida
Editora: Penguin & Companhia das Letras
Ano: 2019
Páginas: 304
Compre: Amazon
Lá no meu Instagram eu falei um pouco sobre A Falência, livro de Júlia Lopes de Almeida (quem quiser conferir, é só buscar nos destaques Livros 2021). Contei que não conhecia a história e não me recordava de ter ouvido falar sobre a autora.
Isso não é incomum.
Ouvimos falar tanto de Machado de Assis, Eça de Queiroz, José de Alencar, Álvares de Azevedo e outros nomes da literatura brasileira que têm sim seus méritos, mas não vamos muito além disso. Será que só esses autores estavam produzindo em suas épocas? Será que só homens produziam literatura nessas épocas?
Não e não.
A história apagou a produção literária feita por mulheres e resgatar esses textos é de suma importância.
Os senhores romancistas não perdoam às mulheres; fazem-nas responsáveis por tudo — como se não pagássemos caro a felicidade que fruímos! Nesses livros tenho sempre medo do fim; revolto-me contra os castigos que eles infligem às nossas culpas, e desespero-me por não poder gritar-lhes: hipócritas! hipócritas!
Julia Lopes de Almeida foi uma escritora de talento. Nascida em uma vida de conforto, pôde se dedicar ao exercício da escrita. Ela foi cotada para assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, da qual foi idealizadora, mas seu nome foi substituído pelo do marido, uma vez que a ABL não aceitava mulheres.
— Minha senhora, eu sou da opinião de que a mulher nasceu para mãe de família. Crie os seus filhos, seja fiel ao seu marido, dirija bem a sua casa, e terá cumprido a sua missão. Este foi sempre o meu juízo, e não me dei mal com ele, não quis casar com mulher sabichona. É nas medíocres que se encontram as esposas.
Na história, somos apresentados a Francisco Teodoro, um bem-sucedido e ambicioso comerciante de café. Ele se casa com a jovem e bela Camila, de boa e humilde família. Do casamento nascem vários filhos enquanto os negócios de Teodoro prosperam cada vez mais.
Porém, o boom do café e a ganância da nascente burguesia urbana contaminam o tradicional comerciante. Ele realiza tratos e movimentos que põem em risco o patrimônio familiar. Enquanto isso, acompanhamos Camila, alheia aos acordos econômicos (tanto por sua culpa quanto pela do marido) e cada vez mais absorta em sua relação com o médico Gervásio.
Em uma virada do destino, a fortuna da família acaba.
Tinha criado fundas raízes no luxo, não se podia desprender por si, seria preciso que a arrancassem.
Parece muito spoiler, mas tudo isso está na sinopse. Até o título do livro entrega que a rica família vai perder tudo. Fiquem tranquilos.
Reveses da vida
A escrita de Júlia Lopes de Almeida é bem simples e fácil de ler. No livro, transitamos pelo olhar de Camila e Teodoro, principalmente, o que nos favorece no entendimento amplo das situações.
Os costumes da época, a recente República que não abandonou totalmente as relações escravocratas, o machismo e as desigualdades sociais marcantes são traços da sociedade hipócrita da qual a história nos é narrada.
Os infelizes julgam os homens piores do que eles são, e nunca veem em si a causa justificada de certos abandonos. Camila queixava-se às vezes das relações antigas, sem cogitar que quem mais fugia era ela, envergonhada da sua nova situação.
Vemos em Camila uma mulher presa às decisões do marido. Por mais que Teodoro não seja um homem mal para ela, todos sabem que ela está presa a ele. No casamento, a mulher fica à mercê das decisões do próprio marido.
Camila é abastada, sendo fútil muitas vezes. Porém, consegue nos dar um olhar reflexivo sobre a situação e as limitações que uma mulher da época passava e que reverberam até hoje.
Os ricos, não é por mal, mas como não conhecem a necessidade dos outros não consolam ninguém…
Gostei muito do livro e quero seguir lendo mais histórias da Júlia Lopes de Almeida.
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