Calibã e a Bruxa – Mulheres, corpo e acumulação primitiva – Silvia Federici
Editora: Elefante
Ano: 2017
Páginas: 464
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Depois de mais de um mês com o blog parado, retorno hoje, no Dia da Mulher, trazendo a resenha de um livro mais do que apropriado para embasar nossas falas e lutas.
Levei quase um mês para terminar a leitura de Calibã e a Bruxa, uma pesquisa atenta que mostra como o surgimento do capitalismo está ligado a guerra contra as mulheres.
Não é uma leitura fácil, pois vem de uma pesquisa acadêmica. É denso, mas muito interessante. Tive momentos em que lia páginas e páginas seguidas, em outros, ficava travada no mesmo parágrafo por dias. Encontrei meu ritmo e aprendi muito.
Calibã e a Bruxa reflete sobre a violência brutal empreendida contra as mulheres durante a transição do feudalismo para o capitalismo na Europa. A autora sustenta que a “caça às bruxas”, essa guerra contra as mulheres, está diretamente relacionada com a criação deste novo sistema econômico, forjado na escravidão, na colonização e na exploração e dominação do corpo e dos saberes femininos.
Argumentamos ainda que a nossa subordinação aos homens no capitalismo foi causada por nossa não remuneração, e não pela natureza “improdutiva” do trabalho doméstico, e que a dominação masculina é baseada no poder que o salário confere aos homens. (Pág. 12)
A autora amplia a nossa perspectiva sobre a realidade feudal. O capitalismo e as relações mediadas pelo dinheiro são vistos por ela não como uma evolução do feudalismo, mas como uma contrarrevolução, uma forma de conter a luta antifeudal e a autonomia dos servos.
O dinheiro e o mercado começaram a dividir o campesinato ao transformar as diferenças de rendimentos em diferenças de classes e ao produzir uma massa de pobres que só conseguiam sobreviver graças a doações periódicas. (Pág. 62)
Perseguição e doutrina
A pesquisa realizada por Silvia Federici é densa, documentos e imagens apresentam os diversos aspectos do sistema capitalista que desde a sua gênese percebeu a resistência feminina à sua ordem. Enquanto os homens são vistos como a força de trabalho, às mulheres cabe apenas o papel de “produtoras de mão de obra”.
A violência, o terror, o aval do Estado e a doutrinação religiosa as obrigaram a exercer gratuitamente os serviços domésticos necessários para sustentar os maridos e os filhos, homens que seriam usados como força de trabalho do sistema nascente.
Enquanto na Idade Média elas podiam usar métodos contraceptivos e haviam exercido um controle indiscutível sobre o parto, a partir de agora seus úteros se transformaram em território politico, controlados pelos homens e pelo Estado: a procriação foi colocada diretamente a serviço da acumulação primitiva. (Pág. 178)
Luz em novos aspectos
Em certos momentos a autora contrapõe seu pensamento a autores como Karl Marx e Michel Foucault, que em suas obras não consideraram a questão de que existem fatores sociais diferentes para homens e mulheres. Por exemplo, Marx, que ao falar de capitalismo ignorou a questão do trabalho doméstico não remunerado como fator decisivo para a acumulação primitiva.
A caça às bruxas foi, portanto, uma guerra contra as mulheres; foi uma tentativa de coordenada de degradá-las e de destruir seu poder social. Ao mesmo tempo, foi precisamente nas câmaras de tortura e nas fogueiras onde se forjaram os ideais burgueses de feminilidade e domesticidade. (Pág. 334)
Ao final, Silvia nos traz mais de uma dezena de páginas de bibliografia, o que só mostra o embasamento de sua pesquisa e o quanto este assunto ainda merece ser estudado e debatido. A caça às bruxas existe até hoje, travestida de novas perseguições e violências.
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3 thoughts on “O Gato leu: Calibã e a Bruxa”