A Filha Perdida – Elena Ferrante
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Páginas: 176
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A última resenha do ano é de um livro que me envolveu profundamente. Li Um Amor Incomodo e gostei da sensibilidade de Elena Ferrante para abordar questões tão caras quanto o feminino e a maternidade de maneira não idealizada, ao contrário, dolorosamente verdadeira. Em A Filha Perdida isso se repetiu, só que com muito mais impacto na minha experiência de leitura.
Na trama, acompanhamos a professora universitária de meia-idade, Leda, que, aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá com o pai, decide tirar férias no litoral sul da Itália. Ela se vê tomada por uma felicidade genuína e vigor renovado com a nova situação de vida. De uma maneira muito direta, a autora joga uma verdade em nossa cara: antes de existir uma mãe, existe uma mulher. Estamos acostumados a enxergar apenas a função e não a pessoa.
As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender. (Pág. 06)
Na praia, Leda volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe da menina Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda lembrar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas.
– Os filhos sempre causam preocupação. (Pág. 35)
Nina se torna cada vez mais idealizada para Leda pois, para ela, a jovem age independente e livre de todo o caos ao seu redor apenas para dedicar toda sua genuína atenção para sua filha. Porém, a aproximação das duas desencadeia em Leda uma enxurrada de lembranças da própria vida — e de segredos que ela nunca conseguiu revelar a ninguém. O véu que tinha sobre seus olhos vai caindo aos poucos e, tanto ela quanto Nina, transparecem suas lembranças doloridas por trás dos sorrisos simpáticos.
Era o sentimento de culpa: eu achava que todo sofrimento que atingisse as minhas filhas era fruto do já comprovado fracasso do meu amor. (Pág. 72)
A narrativa de Ferrante é muito forte e nos mostra o impacto que a família tem em nossas vidas. Fazer parte um todo pode nos apagar, pode ocultar a nossa individualidade. É difícil ser forte para os outros quando não conseguimos nem ser para nós mesmos. Em todo ambiente, por mais gentil e acolhedor que seja, vamos ter os nossos conflitos, incluindo os internos.
– Às vezes, precisamos fugir para não morrer. (Pág. 84)
Saio de 2018 com uma profunda satisfação com esta última leitura. Ler mais mulheres ampliou minhas perspectivas. A pluralidade de vozes e olhares para os mais diferentes temas e gêneros é incrível.
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