O Gato leu: Fahrenheit 451

Fahrenheit 451 – Ray Bradbury
Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2012
Páginas: 216
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Nos dias atuais, muito se tem falado sobre o valor da cultura. Se diz muito que ela é importante, mas pouco se faz por ela. No Brasil, por exemplo, ferramentas de promoção cultural são duramente questionadas e isso me lembrou muito a trama de Fahrenheit 451, na qual uma sociedade que não conhece a sua história, não luta por ela.

Imagine uma época em que os livros configurem uma ameaça ao sistema, uma sociedade onde eles são proibidos. Para exterminá-los, basta chamar os bombeiros – profissionais que antes se dedicavam à extinção de incêndios, mas que agora são os responsáveis pela realização deles, tudo para impedir que o conhecimento se dissemine como uma praga.

– Às vezes pode levar uma vida inteira para um homem colocar seus pensamentos no papel, depois de observar o mundo e a vida, e aí eu chego e, em dois minutos, bom! Está tudo terminado. (Pág. 76)

É aí que conhecemos Guy Montag, um bombeiro que adora o seu trabalho, mas que começa a atravessar uma crise ideológica. A sociedade de Fahrenheit 451 é a do entorpecimento. Guy segue sua rotina de trabalho enquanto sua mulher segue a rotina baseada na programação televisiva, com “parentes” fictícios com os quais se pode interagir.

– A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramatica e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é o que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. (Pág. 80)

Um dia ele conhece sua vizinha Clarisse, que se mostra genuinamente interessada no que ele tem a dizer. A questão é que ele não tem muito o que dizer e lhe falta o hábito, inclusive. Nesta sociedade, as relações são mediadas por telas e há pouco exercício de conversação. Clarisse é curiosa, conversa e pergunta sobre coisas que Montag nunca parou para pensar.

Talvez os livros possam nos tirar um pouco dessas trevas.  (Pág. 100)

O ócio é altamente combatido. Televisões ocupam paredes inteiras das casas, outdoors ocupam a lateral inteira dos prédios, radioconchas enfiadas nos ouvidos falam sem parar durante dia e noite, carros andam a centenas de quilômetros. Nessa sociedade viciada em entretenimento, a leitura e a reflexão trazida por ela são abomináveis.

As coisas que você está procurando, Montag, estão no mundo, mas a única possibilidade que o sujeito comum terá de ver noventa e nove por cento delas está num livro. (Pág. 113)

Conversar com Clarisse o tira do lugar comum da sua vida de respostas prontas para perguntas que ninguém faz. As perguntas dela são de caráter humano. Montag nunca se perguntava o “Porquê?” das coisas, só assentia e fazia. A vida toda foi assim. As dúvidas dela provocam intensos questionamentos nele que não serão muito bem vistos por aqueles que se encontram ao seu redor.

Em seu clássico, Ray Bradbury critica a sociedade de consumo e a indústria cultural. Em uma sociedade homogênea, o diferente é recusado, é punido. Isso é fácil de ser observado nos diálogos do livro, principalmente nos de Montag com sua mulher, Mildred, na qual as perguntas do parceiro causam verdadeiros incômodos.

Esta edição da Biblioteca Azul conta com posfácio do próprio Ray comentando seu processo de criação e avaliação da obra anos depois; um outro texto de sua autoria refletindo sobre as cartas e demandas que recebe dos leitores; e um prefácio de Manuel da Costa Pinto bem reflexivo, mas que, infelizmente, traz alguns spoilers da trama. Sugiro ler o prefácio após a conclusão do livro.

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