O Gato leu: Moça com Brinco de Pérola

Moça com Brinco de Pérola – Tracy Chevalier
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2002
Páginas: 239
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Moça com Brinco de Pérola é um quadro do pintor holandês Johannes Vermeer no qual sempre fui fascinada. Há um mistério na face da retratada que às vezes parece estar sorrindo e, em outras, triste. Não é a toa que ele tem sido chamado de a Mona Lisa holandês. Sensualidade e melancolia são visíveis. O livro de Tracy Chevalier nos leva para dentro desta e outras tantas cenas.

Griet é uma moça humilde que passa a trabalhar na casa do famoso pintor Vermeer. Ela é bem jovem e precisa do emprego para ajudar sua família. O ofício é duro com o dia é repleto de roupas para lavar, passar e costurar, além de limpar a casa, fazer compras no mercado e ajudar a cuidar dos muitos filhos do artista com sua esposa, Catharina. No decorrer dos anos, a moça reflete sobre as diferenças nos modos de vida, comparando a sua família biológica com a qual está morando. Desde a questão econômica até a religiosa, Griet percebe-se totalmente fora do que lhe é conhecido.

Estava tão cansada que mal conseguia pensar. Em casa eu também trabalhava muito, mas não era tão exaustivo como numa casa estranha, onde tudo era novo e eu estava sempre tensa e séria. Em casa eu ria com minha mãe, Agnes ou Frans. Lá, não havia ninguém para rir comigo. (Pág. 36)

A história se passa no século XVII e é muito interessante conhecer os hábitos dos holandeses daquela época, bem como todo o sistema artístico: a pintura dos quadros, o financiamento do artista e a compra de tintas. A personagem principal se encanta com os quadros do pintor e pelos seus olhos temos a descrição de obras famosas, ressaltando seus pontos de luz e objetos expostos na cena. Tecnologias que para nós parecem tão comuns, lá são novidades, como a câmara obscura, por exemplo.

Inocência e admiração

Griet é bem jovem e, muitas vezes, inocente. Eu sempre tinha em mente a época em que se passava a história para poder analisar suas atitudes e pensamentos. Nós acompanhamos seu amadurecimento e a percepção de que as escolhas que faz podem mudar o rumo da sua vida para sempre. Há até a metáfora disso na estrela de oito pontas na praça da cidade.

– Ele é um homem extraordinário –  continuou Van Leeuwenhoek. – Os olhos dele valem um quarto cheio de ouro. Mas, às vezes, ele vê o mundo só do jeto que ele quer, não como é. Não entende que seu ponto de vista tem efeito nos outros. Só pensa nele e no trabalho dele, não pensa em você. Por isso, você precisa prestar atenção. – Ele parou de falar: ouviu os passos do meu patrão na escada.

– Prestar atenção no quê, senhor? – cochichei.

– Em ser você mesma. (Pág 192)

Acompanhar a trajetória de uma quase menina que se vê obrigada a deixar sua família para viver uma vida submissa foi um dos grandes pontos de reflexão na obra. Como empregada, ela não tem direito de reclamar do trabalho exaustivo que a faz acordar cedo e dormir tarde. Griet não é dona de si. O assédio é uma constante, bem como a tentativa dela de se esconder para evitá-lo. Há uma busca por identidade e o desejo de que os dias futuros não sejam mais de exploração. É interessante ver como a sua percepção das coisas vai mudando até ela dar conta do que é necessário para a sua felicidade.

É importante ressaltar que, apesar de nos situar historicamente, este livro é uma ficção. Em 2003 ele foi adaptado para o cinema com Scarlett Johansson e Colin Firth nos papéis principais.

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