Refugiados: A Última Fronteira – Kate Evans
Editora: Darkside
Ano: 2018
Páginas: 176
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Refugiados: A Última Fronteira é o livro mais emocionante que li até o momento neste ano.
Suas muitas cores e elementos nas imagens me causaram certo estranhamento. Não é o quadrinho limpo que estou acostumada a ler. As marcas do lápis de cor e os traços corridos combinam muito com a narrativa. Não conheço outros trabalhos de Kate Evans, então não sei dizer se este é o seu estilo habitual. Só sei que no caso de desta graphic novel isso combina muito com a precariedade e com o caos do lugar onde se passa a história.
Estamos na cidade portuária francesa de Calais. Uma nova cidade se abriu dentro dela, conhecida como “Selva”, essa esquálida favela de contêineres e barracas foi lar de milhares de refugiados, principalmente do Oriente Médio e da África, todos esperando, de alguma forma, chegar ao Reino Unido.
Rodeadas por ratos e lixo, e privadas de qualquer segurança ou saneamento básico, essas pessoas/personagens são o retrato de uma crise humanitária refletida em diversos cantos do mundo.
Voluntária no campo de refugiados de Calais, a quadrinista viu de perto o sofrimento e horror de milhares de pessoas que precisaram abandonar tudo aquilo que conheciam para buscar um novo lar e dignidade.
Há esperança mas também há muita tristeza na narrativa de Kate. Martela em sua cabeça a contestação da validade da ajuda que eles estão levando e, por consequência, o pensamento de que estão tentando estancar uma hemorragia com um curativo adesivo. Há também a certeza de muitos sangrariam se este curativo fosse arrancado.
Então Kate continua, um pouco sem saber o porquê. Ela só sabe que sente por todas aquelas pessoas que tiveram que deixar suas vidas para trás para virarem apenas um número no país a que se destinam.
Em todo lugar há um ar de expectativa, de impermanência. Pessoas que estiveram em movimento por tanto tempo estão presas no limbo, tentadoramente próximas de seu destino, mas do lado errado dessas cercas cruéis, ainda muito longe. (Pág. 08)
Não pude deixar de refletir sobre a questão dos nossos vizinhos venezuelanos, uma realidade mais próxima de nós e que já se faz bastante presente aqui em Belém. Penso no que posso fazer além de dar um pacote de leite para uma mãe com seus filhos, penso para onde eles vão depois daqui. Será que eles têm onde dormir? Será que outros também têm esta dúvida?
Como deve ser sentir saudades de um lugar que não é seguro para você? (Pág 57)
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IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO
Ao ler Refugiados: A Última Fronteira não consegui deixar de pensar na hipocrisia dos países ricos, que invadiram e colonizaram os países pobres, apagaram suas culturas, suas línguas e agora não aceitam receber as pessoas das terras que exploraram.
De alguma forma, é muito mais fácil culpar as pessoas mais pobres da nossa sociedade por nossas dificuldades do que as mais ricas. (Pág. 175)
Guerras por motivos falsos que escondem os reais interesses, como a exploração de petróleo em outras nações, cobram o preço das vidas comuns. Quem quer enriquecer não se importa com esses danos colaterais. A questão é que agora essas pessoas batem na porta pedindo ajuda, atravessando oceanos para morrer aos nossos pés.
Agora as coisas estão ficando mais evidentes.
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