Já falei por aqui que, como mulher, consumo conteúdos criminais como uma forma de me manter alerta. Dito isso, a série documental que indico aqui vai totalmente neste sentido.
Lorena Bobbitt é uma mulher imigrante venezuelana que decepou o pênis do marido John Wayne Bobbitt após anos de abuso. A série documental original do Prime Video traz o crime, seu contexto, motivações e consequências em quatro episódios.
Estupro marital, imigração, a discrepância sobre o quão arruinada fica a imagem da mulher comparada a do homem são apenas alguns dos tópicos de reflexão que a série aborda. Lorena foi vista como a imigrante brava de sangue latino que jogou fora o sonho americano.
A reação ao crime dela foi grande. Já o crime dele contra ela não foi julgado na mesma medida.
John monetizou a situação, foi a programas de TV, bares, vendeu camisetas, participou de arrecadação de dinheiro em seu nome. Até concurso de sósias dele no Hooters teve e ele foi jurado! Além disso, John não fez um, mas dois filmes pornôs nos quais, inclusive, parodiava o caso.
Já Lorena foi alvo de várias piadas e esquetes de humor, além de perseguição de uma imprensa que sensacionalizou seu caso. Jordan Peele, produtor executivo da série, é um comediante americano, imagino que o tema tenha estado tão presente que isso chamou sua atenção. Quem assina a direção é Joshua Rofé.
Lorena denunciou os abusos e violências de John várias vezes, mas a justiça não a defendeu. A polícia o soltava logo ou não seguia adiante na investigação. Era apenas “briga de marido e mulher”. Mas os sinais estavam evidentes, até folhetos educativos sobre estupro Lorena tinha em casa, recebidos de uma conhecida.
Na série, temos imagens muito diretas de abuso e violência doméstica que podem ser gatilho, mas acredito que servem para mostrar o ciclo do abuso, algo que rotineiramente fica oculto dentro de muitas casas. Nesse ponto é que bate, principalmente, o quarto episódio, não só no caso da Lorena mas na questão da violência contra todas as mulheres, algo rotineiro no Brasil também, onde temos a conhecida Lei Maria da Penha, fruto da luta árdua de uma mulher que quase foi morta por seu companheiro.
No documentário, vemos como o público ficou obcecado pela história tratada de forma sensacionalista pela mídia que não conseguia promover uma reflexão sobre o contexto e sobre a violência doméstica, focando apenas no ato de Lorena.
A legislação sobre a violência contra mulher teve defesa de Joe Biden, que naquela época era senador, e conseguiu o apoio de um senador da oposição, Orrin Hatch, para fazer ela acontecer. A partir desses eventos e da pressão civil, a ação da polícia e da justiça foi mais intervencionista nos casos em que agia, não somente tentando acalmar os lados, mas tomando medidas efetivas.
O caso de Lorena ocorreu em 1993, muita coisa mudou de lá para cá, mas ainda há muito o que mudar hoje.
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