O Gato leu: Um Amor Incômodo

Um Amor Incômodo – Elena Ferrante
Editora: Intrínseca
Ano: 2017
Páginas: 176
Compre: Amazon

Quando fiz o balanço literário de 2017 eu vi a discrepância entre a quantidade de livros escritos por homens e livros escritos por mulheres que li no ano passado. Decidi que em 2018 a coisa seria diferente: daria a todos o mesmo espaço. Agora sigo alternando as leituras.

Já tinha ouvido falar muito bem de Elena Ferrante e da verdade em sua fala sobre ser mulher. Apesar de não ter me apaixonado por Um Amor Incômodo, senti na fala de Elena uma conversa franca sobre as experiências tristes que muitas de nós, mulheres, compartilhamos.

O livro conta a história de Delia, que aos quarenta e cinco anos de idade, retorna a sua cidade natal, Nápoles, na Itália, para enterrar a mãe, Amalia, encontrada morta seminua numa praia em circunstâncias suspeitas.

Quando entramos na casa de uma pessoa morta recentemente, é difícil acreditar que ela esteja deserta. As casas não guardam fantasmas, mas retém os efeitos das ultimas ações em vida. (Pág. 26)

O retorno ao ambiente da infância, bem como as revelações perturbadoras a respeito dos últimos dias de Amalia impelem Delia a descobrir a verdade por trás do trágico acontecimento. A filha vai confrontar os três homens que figuraram fortemente no passado de sua mãe: o irmão irascível de Amalia, conhecido por lançar insultos indistintamente a conhecidos e estranhos; o ex-marido, pai de Delia, um pintor medíocre que não se importava em desrespeitar a esposa em público; e Caserta, uma figura sombria e lasciva, cujo casamento nunca o impediu de cortejar outras mulheres.

Senti por um instante a violência doméstica da minha infância e adolescência voltar aos meus olhos e ouvidos como se escorresse ao longo do fio que nos ligava. (Pág. 39)

Percebi que eu estava confusa em muitos momentos durante a leitura, lá pela página 50 (de 176) eu ainda não tinha conseguido me envolver realmente com a trama, apesar dela ter muitos mistérios, o que sempre chama a minha atenção. Talvez seja porque, apesar de linear, a história tira, em muitos momentos, o foco do fato e vai para os pensamentos de Dalia, memórias que se misturam com fantasia e que, de certa forma, quebram o ritmo da história. Claro que os momentos de “olhar para dentro” da protagonista são interessantes de se ter, mas não gostei da forma como foram construídos.

Fora isso não tem como não se emocionar com a história de mulheres marcadas pela violência doméstica, machismo e abuso. Um passado cruel e um presente não tão diferente. O apagamento da mulher em função do homem foi o que mais se destacou da leitura para mim.

Nenhum ser humano jamais se desligaria de mim com a mesma angustia que me desliguei da minha mãe apenas porque nunca consegui me apegar a ela definitivamente. (Pág. 78)

Uma vida na qual as mulheres se acham culpadas. Amalia não podia ser ela mesma e Delia também nunca foi ela própria. Além disso, não havia um relacionamento real entre as duas. Delia idealizava demais os defeitos e as virtudes da mãe, ao mesmo tempo em que olhava Amalia como seu pai violento olhava a esposa. Me solidarizei com a protagonista da mesma forma que a detestei, talvez por a ter visto como ela via sua mãe.

Não era sangue inocente. Para meu pai, nada de Amalia jamais parecera inocente. (Pág. 123)

Terminei a leitura de Um Amor Incômodo com um sentimento real de tristeza. Violência é algo dolorido de se ler, ainda mais quando essa violência vem por que o outro não aceita você do que jeito que é. Infelizmente essa é a realidade de muitas mulheres, que abaixam a cabeça e perdem a sua identidade, sua verdade, para ser o que os outros desejam que elas sejam. É um livro triste, mas que traz à tona um debate necessário. Vale a pena conferir.

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